No escritório onde eu trabalhava nós costumávamos ter a “hora do café”, um momento do dia onde todos os funcionários davam uma pausa no trabalho e se dirigiam à cozinha do escritório por cerca de 20 minutinhos para relaxar e conversar enquanto tomavam um cafezinho.
Em uma dessas conversas, o pessoal da minha rodinha começou a falar sobre qual seria a melhor escolha para as gestantes depois do nascimento dos bebês: continuar trabalhando ou não.
E aí eu ouvi um colega de trabalho, homem, dizer algo do tipo:
“Você tá pensando em parar de trabalhar depois de ter filhos? Mas e toda aquela mulherada lá no passado que queimou sutiã pelo direito de trabalhar fora? Cê num acha que tá desrespeitando a luta das mulheres, não?”
Na época, a Mila jovem e insegura que não tinha muita convicção do que acreditava, acabou fugindo da conversa porque realmente considerou essa hipótese como verdadeira.
Será que eu estava sendo anti-feminista? Será que eu estava invalidando a luta das mulheres por direitos iguais? Será que eu estava mesmo errada em considerar a ideia de parar de trabalhar fora depois de ter filhos?
Hoje, cerca de 10 anos depois desse “papo com café” eu aprendi que nenhuma mulher queimou sutiã pelo direito de trabalhar.
A história de queimar sutiã, na verdade, nunca aconteceu, já que nenhum sutiã foi queimado como forma de protesto feminista. Na verdade, o que houve foi uma manifestação das ativistas do Women’s Liberation Movement durante o concurso Miss America de 1968, onde objetos como sutiãs, sapatos de salto alto, cílios postiços, maquiagens, revistas femininas, cintas, sprays de cabelo e outros itens ligados à beleza feminina foram colocados no chão e no lixo, com o objetivo de denunciar e acabar com a exploração comercial da aparência feminina.
A luta feminina sempre foi por igualdade de oportunidades e direitos, e isso vai muito além do mercado de trabalho.
A luta sempre foi pelo direito de tomar as próprias decisões de vida. De escolher que caminhos são mais adequados para si segundo seus próprios objetivos e expectativas, seus gostos e personalidade.
A luta é por poder escolher, ao invés de ter toda a sua vida escolhida por você e atrelada a sua aparência, a um casamento e a maternidade.
É muito mais gratificante se casar e se tornar mãe porque você quer isso para a sua vida, não porque é o único destino possível para você.
É muito incrível poder dedicar seu tempo para o que te faz bem, mesmo que isso signifique que você nunca mais vai parar para passar rímel na vida.
E é uma sensação maravilhosa saber que a sociedade te aceita, te apoia e te oferece oportunidades para não se casar nem ser mãe caso isso não te faça feliz.
Hoje não é o dia de de acreditar que todas nós devemos querer a mesma coisa.
8 de março, é o dia de…
…me amar como eu espero ser amada por outras pessoas, ao invés de ser a primeira a ser ofensiva comigo mesma nos meus pensamentos;
…me aceitar como eu espero que as pessoas me aceitem, ao invés de ser a primeira a me olhar nua no espelho e só conseguir notar o que tem de errado com o meu corpo;
…me respeitar como eu espero ser respeitada, ao invés de aceitar todas as opiniões alheias como se fossem ultimatos para que eu mude meu comportamento;
…valorizar meu potencial, ao invés de me comparar com outras mulheres e me sentir sempre inferior;
…ser mais empática com os meus próprios erros e pensar neles como ferramentas de aprendizado, ao invés de ser a primeira a acreditar que eu devia ter feito melhor no passado e nunca me perdoar;
…ser mais acolhedora com meus próprios sentimentos e me permitir sentir, ao invés de evitar os sentimentos “ruins” na inocente crença de que tem como parar de sentir;
…ser feliz independente do que eu tenho ou não tenho, ao invés de ancorar minha felicidade em um objeto ou situação, afinal, tudo o que vira rotina acaba perdendo o encanto eventualmente;
…ter convicção de que preciso respeitar minhas próprias escolhas, ao invés de achar constantemente que eu deveria escolher diferente e acabar julgando as escolhas de outras mulheres inconscientemente;
…olhar para outras mulheres com o mesmo carinho, respeito e empatia que estou aprendendo a olhar para mim mesma e ser uma agente de empoderamento para todas as mulheres fod*s que cruzarem meu caminho – mesmo que elas não saibam que o são;
Feliz dia internacional da mulher!