Você já começou uma segunda feira pensando “nossa, essa semana tem coisas demais pra fazer e eu nem sei por onde começar” e logo depois desse pensamento, sentiu o cérebro dando uma travada, exatamente como um computador com muitas janelas abertas, e então, teve dificuldades para começar a fazer tudo o que precisava ser feito?
Semana passada foi mais uma dessas pra mim. E eu digo “mais uma dessas” porque não foi a primeira vez que tive uma semana assim.
Como alguém que foi infectada pela doença do século, o excesso de ansiedade, logo na adolescência, eu quase escuto o característico som de um computador travando quando tenho muitas coisas pra fazer e não sei por onde começar.
PÂ. E agora, qual janela eu tento abrir primeiro? PÂ, mais uma vez.
Minha jornada com a ansiedade me fez procurar terapia logo após uma crise de pânico desencadeada por uma foto inocente que vi no Facebook. Hoje eu percebo que a culpa não foi da foto e muito menos de quem a postou. Na verdade, ninguém tem culpa de nada.
A “responsabilidade” pela crise de pânico foi do meu cérebro, enxergando um problema onde não havia nenhum e automaticamente determinando uma porção de tarefas que precisariam ser executadas para solucionar esse problema, e tudo isso sem a mínima ideia de onde começar.
PÂ!
Olhando para trás, depois de tudo o que aprendi sobre mim mesma no processo de terapia, percebo que essa crise foi necessária para me fazer encarar de frente um problema que eu fazia questão de mascarar e colocar em um cantinho escondido da minha mente. O primeiro passo para resolver um problema é aceitar que ele ele existe, certo?
Sem a crise de pânico, talvez eu tivesse continuado no meu já enraizado hábito de empurrar a situação com a barriga sem admitir que as coisas não estavam tão bem.
Foi quando o PÂ aconteceu que eu acordei para o fato de não era normal alguém ter tantas janelas abertas nesse hipotético computador mental, processando tantas tarefas ao mesmo tempo que nem precisariam existir pra começo de conversa.
Aliás, você já reparou em quantas coisas a gente precisa fazer apenas para manter outras coisas que a gente decidiu que precisa?
Vamos de histórinha pra ilustrar esse pensamento.
Julieta comprou um carro. Agora, além de dirigir, ela precisa abastecer o tanque de combustível e isso custa dinheiro. Ela também precisa deixar o carro em algum lugar quando está em casa e quando sai para passear, o que exige um espaço no primeiro caso e tanto espaço quanto dinheiro para pagar um estacionamento, no segundo caso.
Julieta parcelou a compra desse carro e por isso, além do combustível e do estacionamento, também tem parcelas para pagar. Isso sem contar o seguro e as revisões periódicas.
E isso tudo sem contar todos os outros gastos como troca de pneus, limpeza do carro, pedágios e por aí vai.
Agora, é possível economizar na maioria desses gastos? Sim. É possível fazer algumas escolhas diferentes para contornar os gastos como, por exemplo, a compra de um seminovo ao invés de um zero ou até a contratação de um serviço de assinaturas ao invés de comprar? Sim, também.
Mas é aí que no lugar de entrar em um estado de paz mental que fecha todas as janelas excedentes e mantem abertas apenas as mais relevantes para o nosso caso o nosso cérebro abre aquela porção de janelinhas que nos sobrecarregam.
PÂ!
Eu nunca tive um carro próprio, embora tenha passado toda a minha infância e adolescência sendo levada para todo o canto com o carro dos meus pais. Eu só sei de todos esses gastos presentes na rotina de quem possui um automóvel por ser filha de dois motoristas por profissão que sempre tiveram carros de passeio e por ter crescido ajudando meu pai a consertar o carro quando algo acontecia, para economizar com mecânico.
Pensando em excesso de ansiedade, ter um carro é apenas um exemplo que serve para qualquer outra grande aquisição. Elas vem acompanhadas de gastos em dinheiro e da necessidade de se dedicar tempo e energia apenas para se mante-las e, como se isso não fosse o suficiente para causar no mínimo um nível maior de atenção e concentração, para alguém com excesso de ansiedade, é o suficiente para causa o PÂ.
A parte irônica dessa crise de pânico que me levou a começar o processo de organizar minha mente, foi que eu sou uma profissional da organização. Como foi que eu cheguei em um ponto tão critico de falta de organização mental e emocional, já que eu sabia tantas técnicas de organização profissional?
Bom, a resposta foi me ocorrendo conforme o processo de terapia foi avançando. Eu fui tendo mais clareza e segurança para fechar algumas janelas do meu computadorzinho cerebral que entravam na categoria de coisas grandes que trazem consigo uma porção de coisas pequenas, como no exemplo da compra de um carro.
O ato de desapegar deixou de ser uma ação direcionada apenas aos objetos e passou a abranger a necessidade de controle que eu sentia – que a raiz do meu excesso de ansiedade.
Ao entender a necessidade de desapegar do controle, eu deixei de querer me antecipar a tudo o que pudesse acontecer. Ao abrir mão de me antecipar a tudo, eu percebi que algumas coisas – e algumas situações – não faziam sentido para minha vida, estavam lá apenas para atender a minha necessidade de controle. E ao eliminar o que não fazia sentido, eu eliminei também todas as tarefas que acompanhavam a “tarefa mãe”.
É um processo. Leva tempo, exige paciência e é diferente para cada um.
Mas tem me ajudado com a organização mental.
Então, fica a reflexão: e se a gente aprender a fechar as janelas excedentes no nosso computadorzinho mental e evitar os momentos de PÂ?
Um comentário em “Sobre o momento do P”