Um dia desses, em uma das visitas da minha mãe aqui em casa, nós estávamos conversando sobre uma possível mudança de casa e ela fez o seguinte comentário: para uma família minimalista vocês tem bastante coisa.
Temos? Nunca tinha me dado conta.
Quero dizer, vira e mexe me dá um siricutico pra me desfazer de algumas coisas por aqui, especialmente quando um cantinho que se mantinha arrumado com facilidade começa a ficar um pouco abarrotado e difícil de organizar, mas não achei que tivesse “muita coisa” por aqui.
Apesar disso, eu fiquei com uma pulga atrás da orelha depois desse comentário da minha mãe. Afinal, quanto é muita coisa pra se ter em uma casa?
Será que existe uma regra, uma tabela com a quantidade de itens que se é permitido possuir – e de quais tipos – para que alguém se enquadre em um estilo de vida minimalista e os outros te enxerguem como tal?
Bom, a resposta para essa questão começou a aparecer na minha mente quando eu comecei estudar mais sobre filosofia, uma área de estudo que me causava estranheza na adolescência, talvez por eu ter tido uma educação religiosa, onde o único estudo visto como algo que valesse a pena fosse o estudo da bíblia.
Depois de adulta, quando eu pude escolher quais aprendizados da infância levar comigo e quais ir acrescentando pouco a pouco à minha jornada, o estudo da filosofia foi um dos acréscimos mais valiosos que fiz. Ela me ensinou que, se manter em uma jornada focada em saber quem a gente é de verdade, tanto o bom quanto o ruim, e o hábito de carregar conosco apenas a bagagem que fizer sentido para trilhar essa jornada com sucesso é uma ideia muito mais antiga que o termo “minimalismo” da forma como ele é encarado nos dias atuais.
Todo esse conceito de desapegar do que não serve mais e manter apenas o que faz sentido para a sua vida, sem excessos nem faltas, já era citado por Marco Antônio no estoicismo e pode ser que esse assunto tenha sido ainda mais explorado até antes dele.
Então, se ser minimalista começa na escolha de um estilo de vida e não na aquisição de objetos, será que existe um jeito de nivelar todas as mentes da humanidade para escolherem viver do mesmo jeito e assim, possuirem as mesmas coisas, aquelas que atendam essa norma imaginária sobre com ser um minimalista e que diga o que cada um pode possuir ou não para ser visto por todos os demais como um minimalista?
Eu acho que não.
Acho que, assim como minha mãe teve trouxe sua percepção pessoal quando observou as coisas que eu possuo aqui em casa, cada pessoa que entrar aqui pode tanto se impressionar com o fato de eu dividir um guarda roupas relativamente pequeno com o meu marido e não ter liquidificador nem aspirador de pó ou achar que é um exagero – e até uma extravagância – ter um sofá e uma poltrona reclinável na sala, além de uma porção de outras opções para se sentar no resto da casa. E isso vai ser verdade para qualquer pessoa, em qualquer casa.
A questão principal é que tentar alcançar a expectativa de alguém é um desperdício de energia e, na verdade, totalmente desnecessário para se viver a vida com que uma pessoa se sinta mais satisfeita. Cada um enxerga os diversos aspectos da vida com os próprios olhos, não com os do outro e, exatamente por isso, cada um vai ter o próprio julgamento sobre a vida dos demais. Isso não é um problema e muito menos uma limitação.
Se uma casa minimalista começa na organização da mente e no alinhamento entre quem uma pessoa é e a bagagem que carrega para dar suporte a esse “ser”, o que cada um escolhe ter ou não é algo bem pessoal e único. E é algo mutável, que vai variando conforme a jornada avança e a vida modifica.
Por que será que a opinião dos demais tem um impacto tão significativo sobre quem nós nos permitimos ser – e ter? Ainda, não sei uma reposta pra essa questão, mas sinto na pele esse fenômeno acontecendo.
Então, e se você pudesse ter o que faz sentido apenas para si, sem precisar atender as expectativas de ninguém e muito menos se rotular para se encaixar em uma definição?